12 de jul. de 2010

Contradição

Tucanos repudiam plano do governo de incentivo à produção de cigarros

Os deputados Raimundo Gomes de Matos (CE) e Rafael Guerra (MG) criticaram nesta segunda feira (12) a proposta do governo federal de dar novos incentivos à produção de tabaco no país. Criada pela Câmara Setorial do Tabaco, ligada ao Ministério da Agricultura, a proposta sugere a adoção de ações que contrariam o esforço para colocar em prática a Convenção-Quadro do Tabaco, acordo global também assinado pelo Brasil para reduzir o tabagismo.

O documento prevê a captação de recursos públicos para a cadeia produtiva do setor e a criação de linhas de crédito com taxas iguais as do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

A proposta contraria norma editada pelo governo que não permite o financiamento da produção de tabaco com juros baixos. Criado em 1995 pelo governo do PSDB para garantir juros de até 5% ao ano para os agricultores familiares, o Pronaf excluiu a produção de fumo, ainda em 2001, das suas propostas de financiamento agrícola.

A Câmara Setorial também sugere a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de charutos de 30% para 15% e o retorno das embalagens de 10 cigarros, cuja venda está proibida no Brasil desde 1998. Conhecidas como "kid packs", as embalagens menores facilitam que adolescentes experimentem o cigarro.

Para Gomes de Matos, devem existir outros interesses por trás dessa iniciativa do governo. Segundo ele, o presidente Lula deveria baixar os impostos de produtos de primeira necessidade para o cidadão e não incentivar o plantio de fumo, que mata milhões de usuários de cigarros.

“O próprio presidente assumiu um compromisso público com a população brasileira de garantir alimento na mesa do povo, mas está colocando cigarro. É uma situação estarrecedora. Não dá para entender”, afirmou o deputado.

Rafael Guerra segue a mesma linha de críticas. De acordo com o tucano, o plano defendido pelo governo pode ter interesses eleitoreiros. “Eu considero isso uma atitude absolutamente extemporânea, sem pé nem cabeça. A única explicação que essa medida pode ter é a de agradar grandes empresas que produzem tabaco”, protestou.

Os parlamentares disseram que vão combater o plano de incentivo à produção de fumo na Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados. Para os deputados, é preciso criar o Fundo de Reparação Civil para indenizar as vítimas de cigarro.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Instituto Nacional do Câncer (INCA) revelam que, no Brasil, cerca de 80 mil pessoas morrem ao ano por causa do hábito de fumar. O país é o sexto maior mercado de cigarros do mundo e o primeiro, desde 1994, na exportação da folha do tabaco, apesar de ser o quarto maior produtor mundial. Um terço da população adulta fuma no Brasil, o que representa 11 milhões de mulheres e 17 milhões de homens. (Reportagem: Arthur Filho/ Fotos: Eduardo Lacerda)

Ouça o boletim de rádio aqui

Um comentário:

Jorge Viegas disse...

O tabaco é a principal fonte de renda para cerca de 200 mil familias rurais no país.
Mais de 30 mil empregos diretos estão na indústria do setor.
Outros tantos mil trabalham no transporte, fabricação de adubos e pesticidas relacionados ao fumo.
Resumindo: mais de 1 milhão de pessoas no Brasil depende do tabaco sobreviver.

Tabaco se planta em pequenas propriedades, no sistema de agricultura familiar.
Seu rendimento em reais é alto comprado a outras culturas.

Perguntem ao agricultor: por que ele não troca a produção de tabaco por outra?
Porque o tabaco paga mais que as outras culturas adequadas à pequena propriedade.