Caravanas da mentira
Alvaro Dias (*)
Sem qualquer constrangimento ético, muito menos receio de transgredir a legislação eleitoral, o presidente da República mobiliza todo o aparato federal em torno do objetivo primordial da administração petista: eleger a ministra chefe da Casa Civil. A candidatura da ministra Dilma Rousseff é a tônica de todos os movimentos da ação governamental. O "planejamento" está atrelado ao marketing oficial e o cronograma de viagens segue à risca os impositivos de caráter eminentemente eleitoreiros. O governo age e reage sob os ditames de um projeto de poder que, apesar do revezes sofridos, prossegue à plena caldeira.
O aparato logístico e a grandiloqüência das falas presidenciais ao vistoriar em caravana "uma das maiores obras do mundo", em palanques armados às margens do rio São Francisco, reforçam a postura do governo Lula de desafio crescente à Justiça Eleitoral. Como questionou o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal, é lícito transformar eventos rotineiros governamentais em comício?As recentes "inspeções" no Nordeste demonstram que a administração do presidente Lula não possui limites para utilização de recursos públicos em eventos ostensivamente eleitoreiros. Como a oposição tem um dever a cumprir e não pode se omitir, DEM, PSDB e PPS representaram junto ao Tribunal Superior Eleitoral contra os atos que configuram flagrante descumprimento das normas eleitorais.
As decisões no dia a dia da gestão de Estado são motivadas por razões absolutamente alheias à esfera do interesse público. Uma antecipação desnecessária do calendário eleitoral que presta desserviço sem precedentes ao País. É visível que questões cruciais estão sendo esquecidas e relegadas a plano secundário. O crescimento da violência é um exemplo, sem falar no sucateamento da saúde. O império do crime impõe regressão à barbárie e transforma a população em refém de ações criminosas.
Numa escalada ao arrepio da lei, o governo do presidente Lula, ao invés de fortalecer e prestigiar aqueles que fiscalizam e impõem a observância do ordenamento jurídico, patrocina um verdadeiro coral de vozes para constranger a ação das instâncias fiscalizadoras, como o TCU.
A frouxidão moral e ética respinga e se reproduz nas entranhas do aparelho de Estado. A prática reiterada da mentira se cristaliza no cotidiano do governo, juntamente com o cacoete de acobertar os responsáveis por eventuais desmandos.
O surgimento de uma agenda que confirmaria a data do encontro tantas vezes negado entre a ex-secretária da Receita e a ministra da Casa Civil reaviva suspeitos desmentidos anteriores: dossiê com gastos de FHC, interferência ministerial nas negociações que envolveram a venda da Varig e divulgação de currículo falso.
Não há compromisso com a verdade, e o projeto de nação foi substituído por um projeto de poder. Mais do que nunca é necessário fazer do exercício de governar um processo competente, escoimado da mentira e do compadrio.
(*) O senador Alvaro Dias é o 1º vice-líder do PSDB no Senado
23 de out. de 2009
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