O tiranete de Teerã
José Aníbal (*)
A visita ao Brasil do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, aproximou assemelhados. Ahmadinejad negou o Holocausto; o presidente Lula da Silva negou o mensalão. Mesmo admitindo a diferença de dimensão entre elas, as duas sandices se parecem, pois tentam renegar infantilmente a história real, para reescrevê-la conforme suas necessidades. Ambos copiam o padrão goebelliano - repetir uma mentira obstinadamente a transforma em verdade.
A Constituição brasileira nos dá elementos para rejeitar a presença de Ahmadinejad aqui. O artigo 4º alinha os princípios que devem reger as relações internacionais do Brasil: entre eles, a prevalência dos direitos humanos, a não intervenção, a defesa da paz, a solução pacífica dos conflitos e o repúdio ao terrorismo. Ahmadinejad é a negação desses princípios. Ao recebê-lo com elogios e rapapés, Lula simplesmente descumpriu a Constituição que jurou.
Na contramão - É possível listar muitas razões para afirmar que Ahmadinejad é a contramão da Constituição e do espírito brasileiro. Uma delas é que o Irã é uma autocracia religiosa duplamente intolerante - reprime as diferenças ideológicas e pratica terrorismo religioso quando lança persistentes provocações a Israel e cria um clima de receio para os judeus que lá vivem.
A segunda razão é que Ahmadinejad ameaça sistematicamente Israel, um histórico e confiável parceiro do Brasil.A terceira é que o governo iraniano estimula e apoia financeira e logisticamente grupelhos ultrarradicais que, não raro, promovem atentados contra civis no mundo ocidental. A quarta razão é que o Ahmadinejad se recusa a acatar padrões de segurança universal na pesquisa nuclear. Foi patético ouvir Lula afirmar que o Irã “tem direito” ao uso pacífico da energia nuclear - Ahmadinejad sempre se reservou o direito espúrio de ter armas nucleares.
A quinta é que ele fraudou as eleições presidenciais de junho para se manter no poder. O conjunto de sua obra é sinistro: pratica intolerância ideológica e religiosa, estimula e apoia terroristas, frauda a democracia e aposta no risco nuclear. É não menos que um delinquente internacional.
Logo após a eleição fraudada, o Irã foi palco de numerosas e importantes manifestações de protesto contra a fraude e o obscurantismo do regime atual. A resposta foi uma selvagem repressão. Nas manifestações, 4 mil pessoas foram presas e 140, indiciadas. Está na memória universal a morte dramática de Neda Agha-Soltan, uma bela jovem iraniana que, atingida por balas da repressão, agonizou no meio da rua, em Teerã, e teve a morte filmada por um celular, uma cena de horror veiculada pelo YouTube.
Depois da repressão, o regime de Ahmadinejad acaba de condenar à morte cinco líderes da oposição - e outros três já haviam sido sentenciados antes. Fala-se que 250 pessoas já foram fuziladas em seu mandato. Trata-se de um regime que reprime a oposição, mata seus jovens sonhadores e condena seus líderes à morte, uma pena incompatível com nossa tradição libertária e democrática.
São razões mais que suficientes para rechaçar esse visitante incômodo e, de forma mais veemente, lamentar que tenha sido convidado a visitar a casa onde praticamos democracia, o Congresso Nacional. Ahmadinejad odeia a democracia, não a pratica. No poder, é um tiranete sustentado pelo petróleo - mais um dos muitos que fingem defender o interesse de seus povos para fortalecer a ditadura.
Há interesses comerciais em jogo, dirão os sempre sonsos defensores do negócio como razão de Estado. Em termos, respondo. Em 2008, o Brasil exportou 198 bilhões de dólares; as exportações para o Irã foram de 1,1 bilhão de dólares.
Os principais itens de exportação foram carnes bovinas, óleo de soja, açúcar de cana e milho, produtos que encontram mercado em qualquer recanto do mundo. As razões do negócio, portanto, são insuficientes para sacrificar nossos universais ideais democráticos e legitimar o poder de um tirano repressor que fraudou eleições.
(*) José Aníbal é deputado federal pelo PSDB de São Paulo e líder do partido na Câmara. Contato: dep.joseanibal@camara.gov.br. Artigo publicado no "Jornal da Câmara" em 30/11/09
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30 de nov. de 2009
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Um comentário:
NINGUEM MERECE A VISITA DESTE DITADOR IRANIANO,SÓ MESMO NA CABEÇA DO LULA RECECE-LO AQUI NA NOSSA NAÇÃO.AINDA BEM QUE TEMOS DEPUTADOS INTELIGENTES PARA REFUTAR,E CRITICAR A VINDA DESTA BESTA AO BRASIL.
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