28 de jun. de 2010

Acordo delicado

Tucanos esperam que Irã não seja tema de reunião entre presidentes do Brasil e da Síria

O presidente Lula receberá, na próxima quarta-feira (30), a visita do presidente da Síria, Bashar al-Assad. Apesar de o governo brasileiro não ter divulgado a agenda, a expectativa é de que a questão nuclear iraniana entre na pauta. Integrantes da Comissão de Relações Exteriores, os deputados Luiz Carlos Hauly (PR) e Renato Amary (SP) esperam que o tema não seja debatido, pois o Brasil já está com a imagem arranhada no cenário internacional por apoiar o programa nuclear conduzido pelo regime islâmico.

A menos de um mês, o Itamaraty amargou uma derrota no Conselho de Segurança das Nações Unidas ao votar, junto com a Turquia, contra a aplicação de uma nova rodada de sanções aos iranianos.

Pelo acordo mediado pelos dois países, o Irã se compromete a enviar urânio para a Turquia, de onde o material seria encaminhado para enriquecimento na Rússia e na França. O acordo foi rejeitado pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, que, liderados pelos EUA, aplicaram uma nova rodada de sanções contra o Irã.


Na avaliação de Hauly, o Itamaraty não deve mais se meter com o regime de Mahmoud Ahmadinejad. “O Brasil deveria dar sua contribuição e fazer alguma coisa pela paz do Oriente Médio. Mas em relação ao Irã, o Brasil deve ficar fora, porque já se deu mal o suficiente”, ressaltou. “Espero que a vinda do presidente da Síria se concentre na questão da Palestina e no Oriente Médio, sem envolver a questão iraniana. Qualquer tentativa de resgatar essa questão não será bem vinda”, alertou.

O encontro foi acertado em abril deste ano, num contexto diferente do atual. Na época, predominava o interesse do Brasil como facilitador de uma negociação de paz entre israelenses e palestinos. Agora, há o risco da questão iraniana entrar na agenda de discussões porque a Síria é um dos maiores aliados de Ahmadinejad.

Amary, por sua vez, considerou um absurdo o Brasil tentar novamente levantar o tema. “O presidente Lula deveria ficar mais quieto em relação a esse assunto, pois já estamos numa situação bastante delicada no cenário internacional. Esse posicionamento do presidente é equivocado”, afirmou, ao contestar a posição de Lula de tentar avançar nesse acordo.

O tucano lembrou que apenas dois países - Brasil e Turquia - apoiam o Irã com seu programa nuclear. Amary acredita que a tentativa de um avanço pode provocar ainda mais a ira dos outros países. (Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Eduardo Lacerda)

Expectativa
“Diferentemente do que ocorre com o Irã, a relação com a Síria é mais tranquila e tem sido mais moderada no relacionamento com o Oriente Médio. Espero que o governo brasileiro consiga separar o assunto Irã, que não tem nada a ver com a Síria, e adote uma política diplomática para a região.”
Deputado Luiz Carlos Hauly (PR)

Segundo previu um diplomata ouvido pelo jornal "O Globo", espera-se que Lula peça a Assad para convencer o líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad a manter sobre a mesa a Declaração de Teerã, que estabelece um acordo de troca de urânio levemente enriquecido por combustível entre o país persa e a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).Brasil e Turquia são signatários do documento, firmado em 17 de maio.

No dia 09 de junho, o Conselho de Segurança da ONU aprovou a 4ª rodada de sanção contra o programa nuclear iraniano.

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