19 de ago. de 2010

Crise anunciada

Tucano critica descaso do governo federal com a saúde pública

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular lançará uma campanha nacional para que os seus 1,2 mil associados deixem de operar pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida drástica é um protesto contra o baixo preço pago para as equipes que trabalham em hospitais públicos. Segundo a entidade, o SUS paga R$ 940 para quatro cirurgiões e outros dois profissionais no caso de uma cirurgia de ponte de safena. No Rio de Janeiro, a remuneração pelo mesmo procedimento chega a R$ 13,5 mil pelos planos de saúde.

Para o deputado Raimundo Gomes de Matos (CE), essa situação é um exemplo do descaso do Palácio do Planalto com a saúde pública no Brasil. “O governo não fez os reajustes na tabela do SUS e não fortaleceu a área acadêmica", lamentou o tucano.

Segundo o deputado, o abandono nesse setor nos últimos anos tem sido muito acentuado. Para Gomes de Matos, uma das soluções para minimizar os problemas de financiamento do SUS é a regulamentação da Emenda 29, que destina mais recursos para o setor.

“Apesar de toda a mobilização da Confederação Nacional dos Municípios e de vários segmentos da sociedade, o governo só queria regulamentar a emenda se fosse criada uma nova CPMF. Mas a população brasileira não admite mais impostos”, ressaltou o tucano.

A crise na saúde também atinge os médicos residentes. A comissão nacional de greve decidiu manter a paralisação iniciada na última terça-feira (17). A categoria rejeitou a proposta do governo de reajustar em 20% a bolsa-auxílio, hoje no valor de R$ 1.916. Tanto no caso das cirurgias cardiovasculares quanto na paralisação dos profissionais iniciantes na carreira, os maiores prejudicados serão os pacientes.

"Os ministros da Saúde e da Educação não cumpriram o compromisso assumido com os médicos residentes em 2006 de rever toda a normatização da residência médica”, lembrou Gomes de Matos, que também é médico.

Durante a greve, os profissionais que aderiram ao movimento só realizarão atendimentos de urgência e emergência. A Associação Nacional dos Médicos Residentes (ANMR) estima que cerca de 18 mil dos 22 mil residentes que atuam no país participam da mobilização da categoria.

Filas de até seis meses
→ Segundo reportagem do jornal “Estado de S. Paulo”, a crise das cirurgias cardiovasculares ocorre em vários estados. Goiás, por exemplo, não faz cirurgias cardíacas eletivas, procedimentos que podem ser programados com antecedência e não são urgentes, desde 2 de dezembro de 2009. Na Bahia, o Ministério Público tenta mediar as negociações entre médicos e a Secretaria de Saúde para evitar a paralisação dos serviços.


→ No Rio de Janeiro, os cirurgiões cardiovasculares anunciaram que vão interromper as cirurgias em outubro nos hospitais conveniados ao SUS. Atualmente, o paciente enfrenta uma fila de até seis meses para conseguir atendimento.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Foto: Eduardo Lacerda)

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