3 de ago. de 2010

Direitos humanos de ocasião

Para deputados, atitude tardia de Lula de oferecer asilo à iraniana é um gesto eleitoreiro

Integrantes da Comissão de Relações Exteriores, os deputados Antonio Carlos Pannunzio (SP) e Renato Amary (SP) classificaram de “gesto eleitoral” a atitude do presidente Lula de oferecer asilo à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani. A mulher foi condenada à morte por apedrejamento em seu país sob a acusação de adultério. Ao sinalizar que o regime islâmico rejeitará a proposta, o porta-voz do Ministério do Exterior iraniano, Ramin Mehmanparast, afirmou que o presidente do Brasil fez sua proposta sem “informação suficiente” sobre o caso.

A opinião de Lula a respeito do episódio foi alterada radicalmente em poucos dias. Na última quarta-feira, afirmou que não poderia passar o dia atendendo a pedidos e que as leis dos países deveriam ser respeitadas para não virar "avacalhação". Mas no último sábado, o petista mudou de ideia e resolveu oferecer o asilo.

Na avaliação de Pannunzio, o presidente brasileiro não consegue diferenciar política externa de questões humanitárias. “Ele tem tido uma conduta totalmente errática ao tratar das questões externas”, ressaltou nesta terça-feira (3).

Ainda de acordo com o tucano, primeiro o presidente deveria se informar para saber o que efetivamente se passava com a iraniana e, depois, tentar fazer algo. “Lula mais uma vez, com objetivo eleitoreiro, se posicionou de forma destrambelhada num primeiro momento. Mas depois fez um pedido sem primeiro estudar o que realmente estava acontecendo. Com isso, criou um embaraço para a nossa diplomacia e para o Poder Judiciário do Irã”, reprovou.


Amary não se surpreende com essa atitude do petista. “A movimentação que o presidente tem feito não só com o Irã, mas com outros países, nos mostra uma vontade pessoal e individual de buscar posição de liderança na Organização das Nações Unidas”, apontou o tucano, que também considera a ação de Lula eleitoreira.


Irãdeclarações de petista com desconfiança
Segundo Mina Ahadi, chefe da Comissão Internacional Contra Apedrejamento e Pena de Morte, já são mais de 700 mil assinaturas contra a condenação da iraniana. De acordo com o jornal "O Globo", ela não acredita que Lula seja responsável por uma improvável mudança de comportamento do governo iraniano. "Nós que estamos envolvidos na luta pela sobrevivência dela vemos a relação entre Lula e o Irã com certa desconfiança. Estávamos céticos de que o presidente brasileiro tomaria alguma posição mais enfática em relação ao caso", afirmou Mina.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Fotos: Eduardo Lacerda)

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