13 de out. de 2010

No buraco

Eficiente e bem vista pela sociedade no passado, estatal foi dilapidada no governo Lula

Criada em 1969 após uma centenária experiência do Brasil no setor postal, a Empresa de Correios e Telégrafos teve sua credibilidade e eficiência dilapidadas ao longo do governo Lula. Usada como moeda de troca política, a ECT virou palco de escândalos e de denúncias de irregularidades, assim como ocorreu em outras estatais. O deputado Eduardo Gomes (TO) destaca que a oposição vem denunciando nos últimos meses a crise nos Correios e suas várias causas, como o abuso nas indicações políticas para os cargos de direção da empresa. Além disso, o tucano apontou saídas para a estatal recuperar sua imagem.

“A ECT é reconhecida no mundo inteiro pela capacidade de seus profissionais e pelo serviço de alta eficiência que sempre prestou à população. Infelizmente os Correios vêm sofrendo de um mal que o governo atual tem imposto a algumas estatais: preencher os cargos por orientação política”, ressaltou nesta quarta-feira (13). Para ele, a valorização dos funcionários de carreira e a ocupação dos cargos de direção usando como critério a competência e o preparo seriam medidas que trariam resultados bem melhores à estatal.

Segundo reportagem do jornal “Estado de S. Paulo”, a crise está perto de fazer sua próxima vítima: o presidente da estatal, David José de Matos. Indicado por Erenice Guerra, Matos é o elo que ainda resta entre a ex-ministra da Casa Civil e o primeiro escalão do governo Lula. Diante das turbulências provocadas por essa situação, o tucano disse que a sociedade continuará sendo a mais prejudicada.

Escândalos rondaram ECT nos últimos anos

→ Os casos de corrupção e escândalos nos Correios não começaram agora. A estatal é a pivô do escândalo do mensalão, que veio à tona em 2005. A crise derrubou o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, e até ameaçou o cargo do presidente da República.


→ Cinco anos depois, de novo o Palácio do Planalto tem relação com graves problemas na ECT. Diante de denúncias de má gestão e de conflitos com franqueados, Lula e a então ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, prometeram, em julho, fazer uma "limpeza" nos Correios, dominado majoritariamente por indicados do PMDB.

O problema é que trocaram o presidente e alguns diretores, mas os métodos permaneceram os mesmos. Davi José de Matos foi nomeado em agosto último para a presidência não por sua competência, mas por ser afilhado político do deputado Tadeu Filippelli, que dirige o PMDB do DF e é candidato a vice-governador na chapa do petista Agnelo Queiroz ao Palácio do Buriti.

→ Uma filha do presidente da estatal ocupou cargo de assessora de Erenice com salário de R$ 6,5 mil. Um dos filhos da ministra, Israel Guerra, era funcionário fantasma da Terracap, órgão do Governo do Distrito Federal que já teve Davi de Matos como presidente.

→ Denúncias de tráfico de influência, cobrança de propina e de corrupção na Casa Civil e na ECT acabaram derrubando Erenice e o novo diretor de Operações da estatal, Eduardo Artur Rodrigues Silva. O coronel fazia parte da nova diretoria nomeada pelo governo em meio à crise administrativa. A demissão de Arthur ocorreu 24 horas depois de o jornal "O Estado de S. Paulo" revelar que ele era testa de ferro do empresário argentino Alfonso Conrado Rey na empresa Master Top Linhas Aéreas (MTA).

→ Na última semana, o “Estado de S. Paulo”, revelou que o presidente da estatal aprovou um contrato superfaturado em R$ 2,8 milhões para favorecer a Total Linhas Aéreas. Os documentos mostram que David Matos comandou a reunião de diretoria que autorizou a contratação numa licitação que só teve uma empresa e cujo resultado financeiro ficou acima do estipulado pelos próprios Correios. Os papéis mostram o esforço do coronel Eduardo Artur Rodrigues, então diretor de Operações dos Correios, para convencer, com sucesso, David de Matos a aprovar o fechamento do contrato.

(Reportagem: Letícia Bogéa/ Foto: Eduardo Lacerda)

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