13 de out. de 2010

Falta de fiscalização

Proliferação de superbactéria é consequência da negligência do governo federal, condena Papaléo

O senador Papaléo Paes (AP) condenou nesta quarta-feira (13) a negligência do governo federal em não prevenir a proliferação de bactérias em todo o Brasil. O tucano se refere à superbactéria Klebsiella pneumoniae carbapenemases (KPC), resistente à maior parte dos antibióticos existentes e que tem encontrado terreno fértil para se alastrar em centros de saúde sem higiene adequada. A KPC pode ter causado 18 mortes no Distrito Federal neste ano e já circula por UTIs de grandes hospitais de São Paulo desde 2008.

Para o parlamentar, a primeira medida para evitar que qualquer tipo de bactéria ou vírus se propague em hospitais deveria ser a de manter uma fiscalização rigorosa sobre a higiene desses locais. “Essa é uma obrigação muito importante que o governo federal tem e não está cumprindo. Ele é responsável por essas questões relacionadas à fiscalização de hospitais e às infecções hospitalares”, afirmou o parlamentar, que foi presidente da Subcomissão de Promoção, Acompanhamento e Defesa da Saúde, em 2009.

Atualmente, os hospitais não são obrigados a comunicar à vigilância sanitária os casos de bactérias multirresistentes. E enquanto o problema assusta os pacientes, o governo trabalhava desde o início do ano no Plano Nacional de Microagentes Multirresistentes. O plano, que está sob coordenação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foi apressado apenas diante do recente avanço da KPC no país. A agência somente agora exige que os centros de saúde registrem casos de infecção por superbactérias.

De acordo com o jornal “Estado de S. Paulo”, em reportagem divulgada na última terça-feira (12), a Anvisa foi notificada sobre surtos provocados pela superbactéria em hospitais do Distrito Federal, mas os próprios integrantes da agência reconhecem que há vários casos no país.

Na avaliação de Papaléo Paes, a negligência desta gestão gerou uma situação grave e que a cada dia ficará mais difícil de remediar. No caso da KPC, explica o senador, que também é médico, os pacientes já debilitados não respondem ao tratamento tradicional e precisam tomar drogas altamente tóxicas que, por serem muito caras, nem sempre estão disponíveis na rede pública.


“Nós temos um receio muito grande que essa bactéria se alastre pelo Brasil afora, onde já sabemos de muitos casos de mortes. Não vemos o governo tomar iniciativa para que essa situação gravíssima de saúde pública seja debelada”, afirmou. "O Ministério da Saúde tem essa obrigação, mas ficou apático diante da situação”, completou o parlamentar.

70 casos
de infecção foram identificados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), desde 2008, segundo reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”.
O Laboratório de Pesquisa de Resistência Bacteriana da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) já confirmou a KPC em amostras vindas de João Pessoa, Recife, Vitória, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul

Especialista confirma gravidade do problema


→ "A situação é perigosa. Temos isolado cada vez mais bactérias intratáveis, e a KPC é a que mais preocupa no momento", alerta Artur Timerman, um dos infectologistas mais conceituados no país e chefe do serviço de controle de infecções hospitalares, em entrevista ao jornal “Folha de S. Paulo”.

→ Para Timerman, é preciso "uma vigilância mais estrita, um isolamento mais rigoroso", e isso não ocorre atualmente. O especialista afirma também que não só pacientes internados correm risco. "A UTI é o foco onde as bactérias surgem e depois se espalham para a comunidade. Não é para causar pânico, mas a situação é de alerta", disse. (Reportagem: Renata Guimarães / Foto: Agência Senado)

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