Inovação e desenvolvimento em tempos de crise
Por Eduardo Gomes & Rodrigo L. Medeiros (*)
A preocupação de parcelas expressivas do empresariado brasileiro com a temática da inovação merece destaque positivo. Os debates iniciaram-se há algum tempo, porém a crise econômica reforçou a necessidade de se passar rapidamente do discurso à prática.
Chama a atenção o fato de apenas 28% do empresariado conhecer as linhas específicas de crédito do BNDES. A pesquisa foi realizada pela FIESP para sondar como anda o conhecimento dos empresários sobre a Lei de Inovação, de dezembro de 2004. Esta, por sua vez, ainda é muito pouco conhecida pelo empresariado.
Um arcabouço institucional capaz de estreitar a colaboração entre academia e empresariado chegou a entusiasmar no primeiro momento. No entanto, mudanças de mentalidades demandam tempo e esforços coletivos. Esse parece ser um momento oportuno para tanto, pois a crise econômica demanda políticas públicas mais ousadas no campo dos estímulos à inovação e ao desenvolvimento.
A distância entre academia e indústrias ainda é grande no Brasil. Para se ter apenas uma rápida idéia, basta mencionar que são de brasileiros 2% dos artigos científicos publicados no mundo, um esforço que coloca o país na 13ª posição. Entretanto, entre as solicitações de patentes, o Brasil encontra-se em 24º lugar. O Brasil forma 1,6 engenheiros para cada 10 mil habitantes ao passo que os chineses 4,6. Para as pessoas que esperam competir por preços com os chineses o recado é claro.
Dados da OMC expõem um quadro merecedor de reflexões. Algo entre 55% e 75% das exportações dos países mais desenvolvidos e dos tigres asiáticos é oriundo de três indústrias: metal-mecânica; química; e eletroeletrônica. Levando em conta que os EUA, o Japão e a Europa respondem por pouco menos do que 70% dos gastos globais em pesquisa e desenvolvimento (P&D), não se faz necessário muito esforço para compreender as ações de defesa da indústria automobilística norte-americana desde a década de 1980, quando os japoneses estavam inundando o respectivo mercado daquele país. Quotas de importações foram adotadas, pois empregos e capacidades tecnológicas dinâmicas estavam em jogo.
Para um país que deseja ser bem-sucedido no setor de serviços, as estatísticas da OMC também revelam ser necessário primeiro se tornar mais produtivo na indústria de transformação. Trata-se, portanto, de um ponto de passagem quase obrigatório os ganhos sistêmicos de eficiência e produtividade nas indústrias de transformação para que os setores primários e terciários de uma economia sejam dinamizados.
As premissas da competição atomística não se sustentam perante as realidades vivenciadas pela civilização industrial. Há meio século, Joseph Schumpeter notou serem as grandes firmas responsáveis pela grande maioria dos processos inovadores. Nesse ambiente de concorrência imperfeita, as firmas menores podem buscar crescer com estratégia e inteligência nos interstícios deixados pelas grandes empresas. Do ponto de vista das políticas públicas, o arcabouço institucional previsto na Lei de Inovação pode se tornar efetivamente um instrumento valioso.
Segundo dados do IBGE, as grandes firmas concentram no Brasil 78,7% dos investimentos em P&D, seguidas das médias, 13,2%, e das micro e pequenas, 8,1%. Quais as conexões que podem se formar e fortalecer a partir de uma nova política industrial capaz de articular ações matriciais no âmbito das indústrias de transformação brasileiras? Eis um tema aberto para o debate acadêmico, parlamentar e da sociedade civil. Algo que provavelmente necessitará levar em conta as persistentes disparidades sociais e regionais no Brasil.
(*) Eduardo Gomes é deputado federal (PSDB-TO) e Presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara, dep.eduardogomes@camara.gov.br
Rodrigo L. Medeiros é Professor Adjunto da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), medrodrigo@gmail.com
21 de ago. de 2009
Ciência e Tecnologia
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