21 de mai. de 2010

Ingenuidade diplomática

Pretensioso, Brasil amarga resistência internacional a acordo com o Irã

O presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, deputado Emanuel Fernandes (SP), considerou “ingênuo” e “de alta pretensão” o acordo fechado pelo Brasil com o Irã e a Turquia. Após o presidente Lula ter propagandeado uma suposta grande vitória diplomática, nações com forte influência na comunidade internacional - como Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido - estudam impor novas sanções ao regime islâmico. Segundo o tucano, mais uma vez o Itamaraty adota uma posição praticamente isolada no mundo.

“Considero ingênuo o governo firmar um acordo com o Irã sem que os outros países tivessem participado da discussão. Essas nações ignoraram o esforço do Brasil, já que as sanções podem continuar”, avaliou Emanuel nesta sexta-feira (21). Desde a última terça-feira (18), o Conselho de Segurança da ONU se prepara para votar novas sanções a Teerã. Segundo a diplomacia francesa, a resolução para novas punições já tem o apoio de 12 dos 15 membros do conselho.

Para o tucano, é equivocada a tentativa do governo Lula de adotar uma postura independente na diplomacia. “Esse caminho é perigoso. Tentamos dar um passo ousado e agora teremos que dar quatro ou cinco para trás”, criticou o deputado, ao afirmar que o Itamaraty nem sequer cuida devidamente dos assuntos da América Latina.

Na avaliação de Emanuel, o governo Lula quer ser protagonista mundial e solucionar o impasse no Irã sem manter um diálogo com os integrantes do Conselho de Segurança da ONU. Segundo ele, a diplomacia brasileira precisa ter cautela, pois essas atitudes podem comprometer o país. “O governo precisa tomar muito cuidado, porque são assuntos de Estado, e não de governo”, disse.

O parlamentar do PSDB alerta: o Brasil pode despertar a desconfiança de outras nações ao ficar ao lado do polêmico regime de Mahmoud Ahmadinejad. “Existe uma desconfiança muito grande em relação ao Irã e o presidente Lula acha que vai resolver isso só na base da conversa. Isso não ocorrerá”, criticou.

O vice-presidente do Parlamento iraniano, Mohamad Reza Bahonar, declarou que se uma nova resolução contra o Irã for aprovada, o país não se sentirá obrigado a respeitar o acordo de Teerã. Essa declaração prejudica ainda mais o Brasil, segundo Emanuel.

A frase

Lula está irritado com a repercussão negativa do acordo, quando deveria estar estar preocupado e refletir sobre o porquê do pacto ter dado errado. O governo tem que rever seu posicionamento.”
Dep. Emanuel Fernandes (SP)

→ Artigos publicados nos jornais "Folha de S. Paulo" e "O Estado de S. Paulo" nesta sexta-feira classificam a atuação do Itamaraty com termos como tola e ingênua. "O anúncio [do acordo com o Irã] pode também levantar perguntas crescentes sobre o porquê de Lula estar tentando resolver sozinho os maiores problemas do mundo - como o programa nuclear iraniano ou, semanas antes, o conflito israelo-palestino - ao mesmo tempo em que praticamente não move uma palha para tentar mediar disputas que estão muito mais perto de casa, na própria América Latina", diz texto publicado pela Folha intitulado "O tropeço do Brasil no Irã".

(Reportagem: Alessandra Galvão/Foto: Eduardo Lacerda)

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