Dois pesos, duas medidas
Alvaro Dias (*)
A trajetória de luta do presidente colombiano Alvaro Uribe contra verdadeiro conglomerado terrorista instalado no seu país é um fato conhecido e acompanhado por todo o mundo. Quando tomou posse em 2002, em que pese o esforço do seu antecessor Andrés Pestrana, bem como de inúmeros governos anteriores, a Colômbia era uma nação sitiada pelas ações criminosas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), e ainda pelo Exército de Libertação Nacional da Colômbia (ELN), além de grupos paramilitares. Vale relembrar que durante a cerimônia de posse em seu primeiro mandato, enquanto Uribe recebia a faixa presidencial, as FARC lançavam morteiros contra o Palácio de Narinõ, sede do governo local, atentado que deixou rastro de muitas mortes.
O empenho de sua gestão para neutralizar os terroristas e narcotraficantes é reconhecido por todos. Fato inconteste: a ajuda recebida do governo norte-americano ao longo desse itinerário foi decisiva para o êxito do desmantelamento gradativo dos narcoterroristas e redução expressiva das ações de guerrilha urbana.
A despeito de condições sobejamente adversas, o presidente Uribe cumpre o 2º mandato com aprovação popular recorde, posicionando a Colômbia na trilha da prosperidade econômica e social. Contudo, a presença das FARC não foi eliminada do cenário nacional. Mesmo desfalcada, as FARC operam com um contingente estimado de aproximadamente 10 mil homens.
Nesse momento, a Colômbia discute um acordo com os Estados Unidos para utilização, por parte das forças americanas, de novas bases militares da Colômbia. Vale ressaltar que as referidas bases já são utilizadas pelos Estados Unidos. Como destacou o Senador e ex-ministro da Defesa da Colômbia Rafael Pardo, o acordo apenas regularizaria um fato.
Nesse contexto, causa estranheza a postura adotada pelo presidente Lula: sem pestanejar, questionou o acordo discutido entre Bogotá e Washington, e ao mesmo tempo se omite diante de fatos graves ocorridos no nosso entorno. A cruzada contra a liberdade de expressão na Venezuela, capitaneada pelo coronel Hugo Chávez, por exemplo, é solenemente ignorada pelo governo brasileiro. Sob o pretexto de coibir “delitos midiáticos”, Chávez tirou do ar emissoras de rádio, e seus aliados lideraram ataque à única emissora de tevê independente do país.
Da mesma forma, não houve nenhuma manifestação sobre a apreensão, pelas autoridades colombianas, de armas em poder das FARC, artefatos bélicos vendidos pela Suécia ao governo da Venezuela há décadas. Igualmente silenciou sobre o envolvimento financeiro das FARC na campanha presidencial do presidente do Equador, Rafael Correa. Em nenhum momento houve uma condenação das investidas das FARC. A retórica palaciana sempre evitou qualificar o caráter criminoso das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
A condescendência com as atitudes do presidente Evo Morales na encampação das unidades da Petrobras na Bolívia é outro episódio que se soma à seqüência de omissões do atual governo. Numa demonstração de boa vontade, o presidente Álvaro Uribe realiza um giro por diversos países da região para explicar as razões que motivam a celebração do acordo de cessão de uso de bases militares aos Estados Unidos. A formulação de uma estratégia de “Segurança Democrática” foi o caminho encontrado por Uribe para se contrapor à atuação das FARC. Avaliar os pesos e contrapesos desse acordo é uma tarefa inerente à soberania interna daquele país.
O que se evidencia é o tratamento diferenciado dispensado pelo governo brasileiro às decisões da Colômbia, diametralmente oposto àquele oferecido diante do figurino mal talhado sob a alcunha de “bolivariano”. As questões regionais são tratadas visivelmente sob dois pesos, duas medidas.
(*) O senador Alvaro Dias (PR) é o 1º vice-líder do PSDB na Casa. Foto: Ag. Senado
10 de ago. de 2009
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