Entre recuos e trapalhadas
Alvaro Dias (*)
O ufanismo desenfreado exibido pelo presidente da República nos últimos dias foi concebido por marketeiros com os olhos voltados para as eleições presidenciais do próximo ano. Um gesto “estudado” tentou transformar o pré-sal em panacéia. Os movimentos do governo repetem cacoetes por demais conhecidos.
O primeiro item da cartilha é demonizar as oposições ou qualquer segmento que ouse criticar decisões palacianas. Desde que assumiu o poder, o presidente Lula tem verdadeira ojeriza a qualquer tipo de questionamento. Seus auxiliares e fiéis escudeiros (com raríssimas exceções) seguem o mesmo padrão de comportamento.
Em cada passo fica patente a falta de compromisso da gestão petista com a verdade e a transparência. No ardor dos simulacros, as contradições se sucedem em diatribes dirigidas aos eventuais críticos.
A retirada do regime de urgência constitucional para a votação dos projetos do pré-sal demonstrou a malícia e a incoerência no modo de operar do governante. O arsenal de argumentos sacados de forma irresponsável, para justificar a pressa no encaminhamento da matéria, foi congelado em nome de uma harmonia estranha à cartilha oficial. Mas a aparente “capitulação” foi assinada no espírito de que a celeridade permanecerá intacta, com a votação nos próximos 60 dias. Assistimos a uma sátira cruel que proclama a antítese da lógica e do nexo.
A temporada de ‘recuos’ fechou a semana com chave de ouro diante da trapalhada presidencial no episódio franco-brasileiro. O presidente Lula, no seu habitual açodamento, declarou a escolha do Caça Rafale e de submarinos da França. A pressa em antecipar o resultado de uma licitação não concluída colocou todo o processo licitatório sob suspeita. Se os franceses forem os vencedores, ganharão sob suspeita.
O presidente Lula conseguiu se superar nesse novo capítulo de sua administração. Mal transcorridas 24 horas do anúncio feito por Sua Excelência ao presidente Nicolas Sarkozy, o Ministério da Defesa divulgou nota afirmando que o processo de seleção ainda não havia sido concluído e, como se não bastasse o desmentido à palavra do presidente, fez crer que as negociações com outros países ainda estavam em marcha. Diante da imprudência do mandatário-mor, uma incógnita no ar: qual procedimento o governo deve adotar para sanar esse vício?
Os bilhões de euros reservados para a compra de sofisticados artefatos de guerra contrastam com as necessidades e carências assumidas por diversas instâncias do governo. A cruzada para ressuscitar a CPMF sob o argumento de socorrer a saúde pública e as frequentes alegações de falta de recursos para combater a pandemia de gripe A não inibem a sanha armamentista e os acordes “nacionalistas” sob encomenda eleitoreira.
É surreal preconizar investimentos vultosos em segurança por causa do pré-sal. A fábula escrita nos porões do governo de que inimigos ocultos e ameaças submarinas podem roubar nosso tesouro incrustado nas profundezas do oceano é a pantomima da hora.
A conjuntura econômica e social brasileira impõe prioridades mais prementes que a compra de material bélico numa licitação de contornos atípicos. O governo caminha entre marchas e contramarchas numa sequência de recuos e trapalhadas que parece não ter fim.
(*) Alvaro Dias é o 1º vice-líder do PSDB do Senado
11 de set. de 2009
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