29 de out. de 2010

Corrupção sem fim

Amary lamenta sucessivos casos de tráfico de influência na Casa Civil e pede condenação dos envolvidos

O deputado Renato Amary (SP) lamentou nesta sexta-feira (29) a transformação da Casa Civil em palco de sucessivas denúncias de tráfico de influência. Segundo o tucano, é um absurdo que o Palácio do Planalto seja complacente com tanta corrupção no principal órgão do governo. E diante das investigações surgidas após a divulgação de episódios suspeitos na Casa Civil, Amary espera investigações rápidas e a efetiva punição dos envolvidos.

Na edição de hoje, a "Folha de S. Paulo" destaca relatório da Polícia Federal que aponta mais uma tentativa de lobby de um petista no Planalto. Dessa vez, Sancler Melo, candidato a deputado estadual pelo PT do RJ, relata a um lobista ter sido recebido em 2006 pela então ministra, Dilma Rousseff, para discutir uma forma de evitar a realização de licitação para renovação da rede de franqueados dos Correios. Após esse encontro, a concorrência pública acabou, de fato, nem saindo do papel.

Segundo o deputado do PSDB, os sucessivos escândalos têm ligação e precisam ser desvendados. “A investigação precisa ser rápida para que haja uma conclusão e também uma resposta à sociedade, ansiosa por ética na política”, afirmou.

De acordo com relatório da PF, conversas gravadas com autorização judicial entre Sancler e Carlos Eduardo Fioravante da Costa, ex-diretor dos Correios, suplente do senador Hélio Costa (PMDB-MG) e ministro das Comunicações na ocasião, trazem indícios de tráfico de influência. Segundo o documento, Fioravante promete "ajuda financeira" de R$ 100 mil a Sancler para que ele tentasse convencer Dilma a cancelar a edição de uma medida provisória determinando uma nova licitação.

Em abril de 2006, dois meses antes das conversas gravadas, o Tribunal de Contas da União tinha dado prazo até o final de 2007 para que o governo fizesse a licitação para substituir as agências franqueadas. A Abrapost, associação que representa 90% dos franqueados, tentava impedir a redistribuição da rede de agências, ingressando com ação no Supremo Tribunal Federal em 2007. Em março deste ano, a causa foi assumida pelo advogado Antonio Carvalho, irmão da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra.

Parte dos diálogos gravados faz parte de uma longa investigação sobre as agências terceirizadas dos Correios. Em 2007 e 2010, o governo editou medidas provisórias renovando prazo de vigência das franquias e fixando datas para a renovação da rede, mas as licitações nunca ocorreram.

Para Renato Amary, os indícios não deixam dúvidas de que pessoas ligadas ao PT estão envolvidas nos escândalos de corrupção que acometeram a Casa Civil e os Correios.

Diálogo suspeito

→ Em diálogo gravado no dia 18 de julho de 2006, ao qual a “Folha de São Paulo” teve acesso, Sancler diz: "Eu acabei de sair de reunião com ela [Dilma] lá... Ela se compromete e não emitir a medida provisória para ser relatada em 2006". E continua: "Ela espera a decisão do Supremo, não emite a medida provisória, que já está pronta, que ela ia mandar para o Congresso, para o Bittar (Jorge Bittar, então deputado federal pelo PT-RJ), que vai ser o relator".


(Reportagem: Renata Guimarães / Foto: Ag. Câmara)

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