3 de ago. de 2009

Artigo

Não existe agricultura sem água

Ricardo Tripoli (*)

Não é novidade o Brasil ocupar a quarta posição no ranking dos maiores emissores de gases que aumentam a temperatura do planeta. E o governo federal vem sendo cobrado pela falta de atitudes concretas para resolver o problema do desmatamento. O presidente Lula faz vistas grossas. Parece esquecer que a destruição das florestas brasileiras, principalmente na Amazônia, é responsável por 75% das emissões de gases de efeito estufa do País.

Historicamente, a agricultura brasileira já usou e abusou do meio ambiente, exaurindo os recursos naturais que a sustentam. A Mata Atlântica já foi quase extinta e o desmatamento acumulado na Amazônia atingiu, de agosto de 2008 a maio deste ano, 1.084 quilômetros quadrados, segundo o instituto de pesquisa Imazon.

Incoerência - Tramita no Congresso Nacional o Projeto de Lei 6424, do Senado, que modifica o Código Florestal Brasileiro. O debate começou em 2005 e se concentra num conjunto de projetos que tentam alterar a legislação sobre florestas. Mas as discussões sobre a revisão do Código têm esbarrado num obstáculo intransponível: a incoerência.

Em várias ocasiões, ambientalistas e ruralistas já demonstraram querer resolver o problema seguindo suas convicções. Devemos nos preocupar em preservar nossa biodiversidade. É fundamental zerar o desmatamento em toda a Amazônia e recuperar as áreas já desmatadas. O desmatamento é tanto que já provocou a extinção de 26 espécies de animais e plantas até agora.

É preciso assumir a responsabilidade de produzir sem devastar. Somente dessa maneira o governo brasileiro poderá se qualificar para liderar as discussões no regime internacional de proteção de florestas. No entanto, os segmentos envolvidos na discussão ainda não chegaram num ponto de convergência que resulte em propostas viáveis em termos econômicos, sociais e principalmente ambientais. E enquanto os discursos se distanciam e os ataques desnecessários prevalecem, as florestas continuam sendo destruídas.

Setores que defendem o agronegócio sinalizaram interesse em reduzir a reserva legal, área que por lei tem de ser preservada nas propriedades privadas dos principais biomas. Discute-se diminuir os atuais 80% da propriedade na Amazônia para apenas 50%. Um lamentável contrassenso.

A expansão do agronegócio equivale a três vezes a área coberta pela agricultura em São Paulo. O desafio deve ser aliar o crescimento no campo com a preservação do patrimônio ambiental. A proteção de nossas florestas precisa ser interesse de todos. Deve ser considerada como uma espécie de previdência, que garanta um futuro razoável para as próximas gerações. O fato é que o desmatamento acachapa o desenvolvimento, atrapalha os biomas e agrava ainda mais o controle das mudanças climáticas.

O momento de agir é agora. Ou o governo encabeça uma ação definitiva em busca de um acordo imediato ou o prejuízo será debitado na conta de todos. E os ruralistas também perderão, já que deixarão de exportar por não atender exigências para uma produção que respeite o meio ambiente. Não existe agricultura sem água, sem solo fértil e sem chuva. Estudo da Embrapa revela que o aquecimento global pode fazer o agronegócio brasileiro amargar perda de R$ 7 bilhões até 2020.

Em dezembro, acontece a 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima em Copenhagen. Esse evento definirá as ações contra as mudanças climáticas na segunda fase do Protocolo de Quioto, a partir de 2012. Por lá estarão presentes os principais líderes mundiais. Será uma excelente oportunidade de o presidente Lula abandonar a falácia e apresentar uma política eficaz voltada à gestão ambiental

(*) Ricardo Tripoli é deputado federal pelo PSDB de São Paulo. Artigo publicado no "Jornal da Câmara"

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