3 de mar. de 2010

Um estadista notável

Leia a íntegra do discurso do líder João Almeida proferido na sessão solene

"Senhor Presidente,
Senhoras e Senhores Congressistas,

A longa e profícua caminhada de Tancredo Neves fez dele jovem advogado um vulto luminoso da nossa História. Inaugurada no distante 1935, quando exerceu seu primeiro mandato, sua vida política não apenas testemunhou os acontecimentos que marcaram o processo político brasileiro, mas nele enredou-se, até tornar-se o homem público de dimensões grandiosas e históricas que foi.

Morto em 21 de abril de 1985, dias após ser guindado à mais alta magistratura do país, parecia maior do que vivo, tal a obra política gigantesca que acabara de legar à nação brasileira.

Tancredo Neves era homem público inato. A política lhe era congenial. Nasceu para servi-la e com ela praticar a arte com que os povos do mundo caminham rumo à liberdade e à construção da sociedade democrática.

Para ele, a política era a alma civil dos seres humanos. Foi nessas profundidades insondáveis que garimpou a maior de suas virtudes. Não lhe encantava a brutalidade com que os espíritos competitivos atribuíam à luta política um mero confronto adversarial. Consistia o labor político para esse refinado estadista na conquista dos consensos, que conduzissem a Nação à paz e à prosperidade.

Era inabalável a sua convicção de que a democracia não é apenas um regime político, destinado a estabelecer as necessárias e imprescindíveis regras da governação. Neste sentido, ultrapassou os limites do pensamento liberal, para se incluir entre os mais avançados dos democratas.

Ensinou-nos que a vida em liberdade implica na legitimidade do outro, na valorização da opinião e no diálogo. Neste ambiente, a atividade política não é uma luta entre indivíduos ou partidos que se confrontam, mas um espaço de iguais, onde se articula e negocia os superiores interesses do povo.

Tancredo Neves atravessou, com sabedoria e moderação, as graves crises da Republica.

O tirocínio do político mineiro foi fator preponderante na conturbada conjuntura que culminou com o suicídio de Getúlio Vargas. Levantou bem alto sua voz em favor da legalidade institucional e confortou a Nação com sua extremada lealdade ao presidente morto e ao futuro democrático do Brasil.

Não foi diferente seu comportamento em 1961, nos episódios surpreendentes da renúncia do Presidente Jânio Quadros. Em meio às labaredas do incêndio político, para resgatar a legalidade ameaçada, Tancredo Neves, mais uma vez, tornou-se autor de uma engenharia política que afastou a Nação do golpe de estado e da guerra civil. A introdução do parlamentarismo permitiu atravessar a crise, ainda que não fosse suficiente para criar instituições consistentes e duradouras.

Quando mais negra era a noite do arbítrio entre nós e as esperanças pareciam se desmancharem no ar, a figura de Tancredo Neves se ergue nas brechas das sofridas frustrações para recordar “que na vida das nações, todos os dias são dias de História, e que todos os dias são dias difíceis”.

Os esforços políticos de anos a fio e as lutas heróicas travadas pelo povo brasileiro vão encontrar, naquele homem singular, o intérprete fiel e o condutor habilidoso. A ditadura militar que se instalara no país desde os idos de 64, aluíra seus tenazes mecanismos de dominação, ao impacto das lutas populares. Tancredo Neves teve a audácia de leva-las até à vitória final.

Não foi com renúncias, leniência, empáfias ou narcisismos que conduziu a nau a ele confiada por Uysses Guimarães, vencida a longa travessia marítima, para aportar, com todos os seus tripulantes, no continente democrático.

O regime exangue vivia seus dias crepusculares. O que dava com uma mão tirava com a outra. Não pôde conter a anistia política, mas negou aos cidadãos a soberania do voto em eleições livres e diretas.

Transitando nesta difícil conjuntura, Tancredo proclamara que não há pátria onde falta democracia. Não teve medo de buscá-la onde ela estivesse e foi por esta razão que vaticinou, em seu discurso na convenção partidária que o indicou candidato à Presidente da Republica, que “esta foi a última eleição indireta do país.”

Tancredo Neves veio em nome da conciliação, não da luta fratricida. Em nome da paz, não da guerra. A transição democrática no Brasil, por ele conduzida, não levou ao extermínio o adversário, mas aniquilou suas criações criminosas, não levou às barras da justiça com rigor os que cometeram crimes durante o regime de repressão, mas baniu a tortura e a violência política da consciência nacional.

25 anos já se passaram. Ao longo desse tempo nosso país vem se tornando, pouco a pouco, um lugar melhor para se viver, ter esperanças e criar os nossos filhos. A transição política liderada por Tancredo Neves nos restituiu a paz e descortinou os caminhos do futuro. Ainda há muito por fazer, sempre haverá, mas nunca voltaremos atrás, para reviver aqueles tempos de amargura e ódio!

As gerações se sucedem e trazem com elas a herança dos antepassados. Aqui neste augusto Plenário se encontra um legítimo herdeiro dessa tradição mineira, o neto de Tancredo: Aécio Neves.

Governador de Minas Gerais, Aécio Neves já presidiu a Câmara dos Deputados, exibindo a sobriedade que caracteriza seus conterrâneos. Nessa magna função converteu-se de pessoa em personalidade.

Foi fácil perceber que na figura daquele jovem estava concentrada a herança dessa tradição política, que fez de Tancredo um símbolo da conciliação política, da construção de consensos democráticos e da firmeza das convicções morais e ideológicas, magnificadas na conversação e no diálogo.

Receba, portanto, ilustre Governador, as sinceras homenagens do nosso valoroso partido, estenda a toda a família do ilustre homenageado nossos preitos de reconhecimento e louvor e tome-as como sinal de nossas esperanças em Vossa Excelência, pelo muito que já fez pelo Brasil e o muito que, estamos certos disso, ainda fará.

Muito obrigado."

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