8 de nov. de 2010

Trapalhadas em série

Para tucanos, erros no Enem são resultado da má gestão do governo federal

Deputados do PSDB culparam nesta segunda-feira (8) o governo Lula pelos inúmeros erros encontrados nas provas aplicadas neste final de semana do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os tucanos atribuíram as falhas à má administração federal e ao descaso do Planalto com a educação e o próprio exame, que para muitos jovens é a principal porta de entrada do ensino superior.

A Justiça Federal acatou na tarde de hoje liminar do Ministério Público Federal e determinou a imediata suspensão do Enem. Para a juíza da 7ª Vara Federal, Carla de Almeida Miranda Maia, o requerimento colocado à disposição dos estudantes prejudicados não resolve o problema. A decisão tem efeito em todo o Brasil. O Ministério da Educação já havia admitido que soube das falhas apenas ao abrir e distribuir as provas e que o órgão responsável pelo exame, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), não checou a impressão final. O MEC queria reaplicar a prova para cerca de 2 mil estudantes.

Na avaliação da deputada Professora Raquel Teixeira (GO), os erros são fruto da falta de seriedade dos responsáveis pela organização do Enem. "A perpetuação do erro mostra a falta sistemática de seriedade na condução de um exame importantíssimo que passou a estar acompanhado de problemas e escândalos, baseados exatamente na má administração. Um exame caríssimo e importantíssimo que corre o risco de se desvalorizar como instrumento de medição", criticou.

Uma das principais falhas na impressão da prova foi na folha de respostas, que trazia cabeçalhos invertidos. No caderno de perguntas, as questões de 1 a 45 eram de ciências humanas e, de 46 a 90, de ciências da natureza. Na folha de respostas, o cabeçalho de ciências da natureza aparecia primeiro (na numeração de 1 a 45) e o de ciências humanas vinha depois (na numeração de 46 a 90). Outro problema ocorreu com as provas de cor amarela que tinham questões do caderno branco encartadas erroneamente e, por causa disso, 31 perguntas estavam com numeração duplicada ou sequer existiam.

A parlamentar também defendeu a realização de uma nova prova. “Erros primários e absurdos colocam sob suspeita todo o resultado do exame. Por mais caro que tenha custado, por mais absurdo que seja o país perder esse dinheiro, talvez a forma mais justa com os alunos seja cancelar tudo”, defendeu a tucana.

O deputado Lobbe Neto (SP) também acredita que o Enem deve ser repetido e defende que mais esse erro seja analisado pelo Ministério Público Federal (MPF). O MPF foi acionado para acompanhar o vazamento de dados dos candidatos (veja cronologia abaixo) no dia 12 de agosto, após o pedido feito pelos líderes do PSDB e da Minoria na Câmara, João Almeida (BA) e Gustavo Fruet (PR).

O tucano lembra ainda que os problemas com o exame se tornaram corriqueiros desde o ano passado e essa sucessão de falhas colocou a seleção em descrédito. “Acredito que os estudantes estão perdendo a confiança em relação a essas provas, pois parece algo sistemático já que agora todo ano aparecem erros. Esses fatos geram uma insegurança muito grande para a juventude”, lamentou.
(Reportagem: Djan Moreno/ Fotos: Eduardo Lacerda)

Cronologia do descaso


Outubro de 2009 - MEC cancela o Enem após ser avisado por reportagem do jornal "O Estado de S.Paulo" que a prova havia vazado. Exame é remarcado para dezembro, mas grandes universidades como USP, Unicamp e PUC desistiram de usá-lo em seus vestibulares.

Dezembro de 2009
- Dos 4,5 milhões de inscritos, só 1,5 milhão fizeram o Enem. O Inep divulga gabarito errado das provas.

Janeiro de 2010 - O Sisu, sistema online do MEC para candidatura a vagas nas federais usando o Enem, estreia com problemas de lentidão e erros. Alunos demoraram até 14 horas para fazer inscrição.

Fevereiro de 2010 - Novas falhas no sistema fizeram com que estudantes não classificados aparecessem como convocados para matrícula. Além disso, o Inep admite que um problema na digitalização das redações do Enem levou à divulgação errada das notas de 915 estudantes.

Agosto de 2010 - Informações sigilosas como RG, CPF, notas e número da matrícula dos estudantes inscritos no Enem em 2007, 2008 e 2009 foram exibidas no site do Inep. O caso veio à tona em reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" no dia 4 de agosto. Os dados foram retirados do ar no mesmo dia.


R$ 128,5 milhões
Foi o custo do Enem 2010. Um salto de 28% em relação a 2009.


4,6 milhões
É o número total de estudantes que se inscreveram no exame aplicado no último
fim de semana.

Leia também:
Ouça aqui o boletim de rádio

Nenhum comentário: